quarta-feira, 25 de maio de 2016

MAXIMÍNIMAS

SONETOS SOBRE AFORISMOS.

"Divertir os outros, um dos modos mais emocionantes de existir."
                                                                           Clarice Lispector

XXIV

Sempre gostei de, nos meandros da vida,
divertir os outros com as momices
que vi por aí, ou que alguém me disse,
desde que a graça tenha guarida!

Ou, quando alguém, vem e me convida
a contar anedota, e o povo a rir-se
pela piada bem contada, a ir se
transformando em risadas, duvida!

Sempre gostei de, com minhas pilhérias,
não levar essa vida sempre séria,
mas, vez ou outra, fazer mil palhaçadas!

Por contar em momentos propícios,
piadas que vão sendo sempre indícios,
de muitas, muitas, muitas gargalhadas!

Miguel de Souza

quinta-feira, 19 de maio de 2016

SOBRE POEMAS



Um dos meus poemas Reforma Agrária, foi premiado no VI Concurso Nacional de Poesias “Poeta Nuno Álvaro Pereira” 2004, na categoria POESIAS POLÍTICAS. O interessante disso tudo, é que eu só fiquei sabendo agora, pois a remessa que haviam me enviado via correios se extraviou e não chegou até a mim. Garimpei o dito cujo na Estante Virtual, um site que vende livros pela internet. E, em menos de uma semana da compra, o carteiro bate à minha porta com o livro em mãos. Que eficiência, hein!
Olhei com um pouco mais de carinho para este poema, não que os outros não mereçam o mesmo gesto. Mas me lembrei de como ele surgiu: foi através de uma notícia de rádio. O jornalista Paulo Guerra da Rádio Difusora dava uma notícia sobre membros do MST que estavam entrando em conflito com a polícia em Rondônia.
De súbito, achei aquilo tudo um bom enredo para um poema, e quase que automaticamente, peguei lápis e caderno e de um fôlego só, compus este poema que há doze anos havia me dado a honra de ter sido um dos vencedores desse concurso. (Primeiro Lugar Medalha de Ouro).


REFORMA AGRÁRIA

Aquela terra num abandono
Parece não ter dono
Mas não foi bem assim...

De repente houve a guerra
Por um pedaço de terra
Que todos queriam, sim!

De repente houve a batalha
Para o começo da insônia
Lá pelas bandas de Rondônia.

E por mais que a terra valha
Não adianta essa luta
Essa terrível disputa
Que pelo Brasil se espalha!

Miguel de Souza
In: Pérgula Literária VI
P: 248

sábado, 14 de maio de 2016

DOS TEMPOS DE ANTANHO.

Recordando a minha pré-adolescência, lembro-me da Bia Bedran, uma contadora de história de um programa da antiga T.V.E.  E lembro-me também de uma frase que marcou essa época: “Senta que lá vem a história”, de outro programa muito bacana, “X Tudo”.
Estou contando essas coisas, porque outro dia, me deparei com essa frase num blog muito interessante de uma garota de programa: “Rodando Bolsinha”, e esta frase me levou aos tempos de antanho... Quando, ao chegar da escola, me sentava defronte ao aparelho de T.V para assistir esses programas que foram fundamentais na minha vida. Se alguém, por acaso, me perguntar o que é a felicidade? Digo sem medo algum de errar, que a felicidade é você chegar da escola, jogar os cadernos num canto qualquer, tomar um copo de café com leite e pão com manteiga derretendo... Humm!! E aprender coisas tão importantes quanto o que se aprendia na escola. Hoje, as TVs não são as mesmas!
De certa forma, me transformei também num contador de história. Pois vivo dizendo coisas através dos poemas que escrevo, ou que se deixam escrever. “O poeta é um observador”. Este é o verso inicial de um poema escrito por mim, e que traduz, de alguma forma, o nascedouro da arte. Pois tudo nasce da observação. Então, peço licença para fazer uso dessa maçante frase: SENTA QUE LÁ VEM A HISTÓRIA!

História de um beijo
                                                     Pra Marcela
Ainda guardo no caderno
A forma da tua boca...
Que num gesto muito terno,
Numa noite muito louca!

Sem nenhuma cerimônia,
Beijaste-o pra minha intriga...
E, feito aquele que sonha
Tê-la mais do que uma amiga,

Contentei-me com teu gesto.
Mas tive-o como uma afronta!
Pois teu gesto muito lesto,      
Como algo que me apronta,

Deixou-me com tão ciúme                 
Daquele feliz caderno,
Que até hoje tenho queixume,
Sobre aquele beijo eterno!

Ah! Como queria sê-lo,
Nem que seja por um minuto!
E teu beijo, enfim, tê-lo,
           Sem precisar ficar puto

Com o meu amigo de guerra
- afanador de desejos! -
E, por aqui, se encerra,
A história desse beijo.

Miguel de Souza

domingo, 8 de maio de 2016

DIA DAS MÃES

                                                         
SUAS MÃOS

Aquele doce que ela faz
quem mais saberia fazê-lo?

Tentam. Insistem, caprichando.
Mandam vir o leite mais nobre.
Ovos de qualidade sãos os mesmos,
manteiga, a mesma.
Iguais açúcar e canela.
É tudo igual. As mãos (as mães?)
são diferentes.

Carlos Drummond de Andrade


MATER ORIGINALIS

Forma vermicular desconhecida
Que estacionaste, mísera e mofina,
Como quase impalpável gelatina,
Nos estados prodrômicos da vida.

O hierofante que leu a minha sina
Ignorante é de que és, talvez, nascida
Dessa homogeneidade indefinida
Que o insigne Herbert Spencer nos ensina.

Nenhuma ignota união ou nenhum nexo
À contingência orgânica do sexo
A tua estacionária alma prendeu...

Ah! De ti foi que, autônoma e sem normas,
Oh! Mãe original das outras formas,
A minha forma lúgubre nasceu!

                                                        Augusto dos Anjos


PRESENÇA

Podem trazer a melhor companhia,
a melhor companheira,
esposa, mulher.
Os melhores beijos, afagos,
os mais ardorosos carinhos.
Mesmo assim, nada substitui
a doce presença de uma MÃE!

Miguel de Souza


*Tela do pintor impressionista Claude Monet

segunda-feira, 2 de maio de 2016

DE FÉRIAS

Vem a segunda
com seu labor
        que inunda!

E me pergunta:
- Por que descansas?

vem a terça
sobre minha
          cabeça!

E me pergunta:
- Por que descansas?

Vem a quarta
tanto quanto
            farta!

E me pergunta:
- Por que descansas?

vem a quinta
com paciência
           extinta!

E me pergunta:
- Por que descansas?

Vem a sexta
com indagação
           extra!

E me pergunta:
- Por que descansas?

Enfim, sábado
e também domingo...
Nada perguntam!
porque deles não
            me extingo.


Miguel de Souza